Esta é uma história livre para todos os públicos.
No meio da Floresta da Luz, perto de um pequeno riacho, havia um pequeno lugarzinho, quase escondido pelas folhas de samambaias-avenca, que se chamava Reino das borboletas. Nesse reino moravam duas irmãs da linda espécie morfo-azul. Eram duas solteironas que ganhavam a vida fazendo doces de frutas silvestres. Uma vez por semana, todos os animais participavam de uma grande feira em que todos trocavam ou vendiam suas mercadorias. A moeda da floresta era única. A chamavam de Carvalho Dourado. Era produzida no Reino dos Pica-paus e distribuídas para todos os reinos pelos guardas da Rainha Soberana, uma grande e bela leoparda, que governava a todos com pulso de ferro. Em cada reino, cada administrador ou administradora distribuía o que era destinado a cada um, de acordo com o seu trabalho. As duas irmãs borboletas, Clarice e Clarissa, ganhavam razoavelmente bem, já que trabalhavam bastante. Seus doces de frutas silvestres faziam muito sucesso e animais de todas as partes, até mesmo de reinos bem distantes, vinham prestigiar suas gostosuras.
Um dia, Clarissa, a mais velha, encontrou na sua porta um pequeno embrulho. Achou muito estranho e chamou sua irmã. Juntas abriram o pacote e para surpresa de ambas, havia um pequeno bebêzinho canário.
___ Tadinho, Clarice! Abandonaram o pobrezinho! Podemos ficar com ele?
___ Será, Clarissa? E se tivermos problema? E se a mãe dele aparecer?
___ Claro que não vem! Não vê que ela deixou ele pra nós? É um lindo canarinho, eu acabei de ver!
Clarice bem que tentou fazer com que sua irmã não ficasse com o pequeno canarinho, que deveria levá-lo à Rainha Soberana, que diria o que fazer, mas foi tudo em vão. Clarissa pegou o bebêzinho no colo e ficou com ele.
Alguns anos se passaram e o canarinho, a quem Clarissa chama de Pituca, já era um rapazinho. Clarice se casou e tinha se mudado com o marido para outro reino. Então, Clarissa e Pituca viviam sozinhos e nem tão felizes assim, na pequena Toca Dourada, como era conhecida a casinha de Clarissa. Não viviam muito felizes, porque Pituca sempre dava algum desgosto para sua mãe. Quando não era um problema na escola, era um problema com algum vizinho. E era quase sempre assim, todo dia, um novo problema e lá ia a dedicada Clarissa “arrumar” a bagunça!
Um dia, Pituca chegou em casa com um novo amiguinho. Cadu, era um desengonçado filhote de sabiá. Parecia um tanto tímido e arisco, mas também possuía algo de frio e malicioso no olhar. Clarissa de imediato, não foi com a cara dele. Achou que ele era um tanto dissimulado. Pituca não gostou da forma como a mãe o recebeu e nesse dia acabaram brigando. No meio da discussão, Pituca disse que Clarissa não era sua mãe verdadeira e isso a deixou muito magoada. Assim, não encontrando outro jeito, teve que aceitar esse novo amigo de Pituca e os dois se tornaram amigos quase que inseparáveis. Onde ia um, lá estava o outro. E as confusões, como não poderiam deixar de ser, passaram-se também a dobrar de tamanho! Era encrenca atrás de encrenca! E lá ia Clarissa, resolvendo tudo com sua paciência e dedicação.
Certa vez, Clarissa, ao sair para vender seus doces, trouxe uma pequena caixa azul-celeste, toda enveludada e amarrada por uma grande fita branca. Logo, Pituca e Cadu, curiosos, queriam saber o que tinha dentro!
___ Comprei essa linda caixa para colocar dentro dela, meu maior tesouro! Disse Clarissa
Os dois meninos ficaram com os olhos abertos de tanto espanto! Pituca foi logo falando que queria ver e que se o tesouro também era dele! Clarissa disse que o tesouro um dia também seria dele. Mas só iria mostrá-lo no dia em que ele fosse uma criança obediente e que não fizesse mais travessuras. Por isso, iria guardar o tesouro no grande cofre da floresta. Esse cofre, feito de cobre, era guardado pelos tigres da Rainha e ninguém ousava chegar perto, sem que tenha em mãos, o comprovante que o havia alugado. Foi o que Clarissa fez já naquele mesmo dia. E nunca mais se falou na tal caixa e no tal tesouro.
Quer dizer, Clarissa não tocou mais no assunto, mas as crianças não esqueceram de jeito nenhum. Hora ia, hora vinha, Cadu indagava Pituca sobre o tal tesouro.
___ E aí, amiguinho, que tesouro será esse? Não entendo por que sua mãe não usa logo esse tesouro pra te dá a boa vida que você merece!
E assim, quase todo dia, Cadu, na sua dissimulação e maldade, ia contaminando a cabecinha fraca de Pituca. Quando Pituca não falava no tesouro, quem falava era Cadu e esse assunto não morria. Até que um dia, Clarissa amanheceu doente. Ela viu que estava muito mal. Chamou Pituca e pediu para que ele fosse chamar o Dr. Coruja. No caminho, Pituca encontrou-se com Cadu. Este não perdeu a oportunidade e já foi logo dizendo:
___ Amiguinho, essa é sua grande oportunidade! Sua mãe já tá velha e acabada! Tá na cara que já chegou a sua hora! Ela não vai mais precisar daquele tesouro! Você é jovem e cheio de vida! Você vai saber usar esse tesouro de uma maneira melhor!
___ Mas como eu vou botar a mão nesse tesouro? Só minha mãe pode ir lá no grande cofre e buscá-lo!
___ Mas, se sua mãe morrer, você, como herdeiro legítimo, poderá fazer a mesma coisa! E sua tia se casou, não tem mais direito e além do mais, ela mora em outro reino muito distante!
___ O que você acha que eu tenho que fazer?
___ Nada! Não faça nada! Ir chamar o Dr. Coruja, pra quê? O que ele pode fazer? Sua mãe tá velha e cansada! Não há remédio que cure a velhice! Ele só vai perder tempo e no máximo, vai dizer que ela precisa de repouso! É só deixar ela lá descansando! Já sei! Vamos viajar até o Reino das Andorinhas! Tem um “brother” meu lá! E a gente pode se divertir! Quando voltarmos, sua mãe já deve estar melhor! Vamos?
Pituca pensou, pensou e achou que Cadu tinha razão! Sua mãe tava só cansada! Também vivia pegando no pé dele! Talvez fosse até fingimento! Ela bem que podia tá inventando que estava doente só pra fazer ele ficar em casa e não se divertir!
E Pituca resolveu seguir Cadu até o Reino das Andorinhas e assim, deixou sua mãe para trás e sozinha. Os dois passaram dias maravilhosos e depois de duas semanas de diversão, resolveram voltar pra casa. Cadu não quis seguir o amigo e disse que precisava resolver umas coisas.
Ao chegar em casa, Pituca encontrou as portas e janelas fechadas! Bateu e bateu e sua mãe não apareceu! Dona Chicória , a borboleta vizinha, é que veio falar com ele!
___ Você não sabe ainda? Sua mãe estava muito mal! Ninguém sabia de nada! Até achei estranho que ela estava há dias sem sair de casa! Mas achei que ela estava com muito trabalho a fazer e acabei não me preocupando! Até que o pombo-correio precisou de uma assinatura dela e viu que a porta estava só encostada. Então ele entrou e foi aí que viu sua mãe estendida no chão! Já devia estar morta a mais de dois dias! Uma pena! Uma borboleta tão forte com ela! Nem dá pra acreditar!
O funeral de Clarissa foi muito bonito! Sua irmã, Clarice não pode comparecer, mas enviou uma linda flor! Como ela era muito querida por todos, o velório e o enterro foram muito concorrido! Vieram animais de todas as partes! Seus doces eram muito famosos!
Dois dias depois, Cadu resolveu acompanhar Pituca na sua ida ao grande cofre! Os dois estavam bastante animados! Cadu disse que ajudaria o amigo com muito prazer! Ele saberia orientá-lo sobre como usar seu tesouro e como ia torná-lo mais rico! Ele possuía muitos amigos influentes e que não se preocupasse com nada! Deixasse tudo em suas mãos! E foi nessa animação, que Pituca informou tudo a um dos guardiões do cofre. Este reconheceu o direito legítimo de Pituca e deixou que ele levasse a caixa deixada lá por sua mãe, Clarissa.
Pituca pegou a caixa e, junto com Cadu, levou a caixa até sua casa. Lá chegando, Pituca pegou uma tesoura e e finalmente cortou a fita que a tampava.
___ Agora é só tirar a tampa e finalmente vamos saber que tesouro é esse! Cadu não conseguia disfarçar a ansiedade. Pituca puxou a tampa. O que viram deixou ambos sem fala por um bom tempo!
Viram um envelope. Atrás do envelope, uma pequena roupinha de bebê. No envelope tinha uma cartinha que dizia “ Este é meu filho querido! Não posso criá-lo e por isso o deixo nas suas mãos, Clarice e Clarissa! Sei que são pessoas muito boas e que vão dá todo amor que meu filhinho precisa pra se tornar uma pessoa de bem! O pai dele não é lá grande coisa! Sei que meu filho vai ser alguém melhor! Cuidem bem dele e deem todo o amor de que ele precisa!”
A roupinha de bebê era a mesma que ele estava usando quanto Clarissa o encontrou. Dentro dela havia um outro bilhetinho. Só que este era da própria Clarissa, que dizia “ Este é Pituca! Meu filho amado! O amor que tenho por ele é meu maior tesouro!”
Por muito tempo, Pituca carregou essa caixinha consigo pra todo lugar que ele ia. Todos os dias de sua vida, ele relia esse bilhetinho deixado por sua mãe. Nunca mais ouviu-se falar de seu amigo Cadu. Não sei se Pituca foi feliz um dia. Só sei que ninguém nunca viu um sorriso em seu rosto. Quando, certa vez, encontraram o corpo dele na sua casinha solitária, a mesma onde ele viveu com sua mãe, encontraram também essa tão famosa caixinha azul.Ao tirarem a caixa de seus braços, encontraram um pequeno lenço branco que cobria toda a caixa. Nele estava escrito “Meu maior tesouro”.
FIM