Era uma tarde um tanto abafada de verão. Mr. Rudolf Vilasboas, como gostava de ser chamado, estava escrevendo uma carta. Não que ele fizesse isso com frequência. Em sua suntuosa mansão, sentado em frente a sua velha escrivaninha, no pequeno Vilarejo de Santa Bárbara, interior de Águas Belas, Mr. Rodolf sempre se sentia como um verdadeiro Lord inglês, o que era justificado por sua descendência inglesa, por parte de seus bisavós paternos, que "colonizaram" a região há mais de 100 anos. Se alguém, por ventura, passasse agora em frente à pequena janela conjugada de seu escritório, uma suposição um tanto remota de ocorrer, veria um simpático senhor, de aproximadamente 70 anos, sentado junto a uma velha escrivaninha de mogno, corpo ainda esguio (ele tinha sido atleta quando jovem), cabelos grisalhos, escrevendo arduamente algo em um bloquinho de papel. Veria seu semblante um tanto preocupado e sisudo, piscando o olho direito quase sem parar, gesto que ele não conseguia evitar quando estava nervoso. Veria também seu olhar, que à primeira vista pareceria distante, mas que na verdade era bem astuto.
Nesse momento, algo fora da rotina aconteceu. A porta de vidro que separa o escritório da grande varanda, que circunda a grande mansão, abriu e por ela entrou uma pessoa que parecia ter vindo de um dos lados. Nas mãos, empunhava uma pequena arma. Foi diretamente em direção à escrivaninha, onde estava Mr. Rodolf. Não demorou muito para que o barulho de um tiro ecoasse por toda a Mansão Sun Way.
Suzane VilasBoas penteava seus belos cabelos ruivos. Estava indignada. Olhava para o grande espelho a sua frente com um certo olhar de fúria. Sentada em frente à penteadeira cheia de cosméticos, perfumes e uma caixinha de jóias, parecia uma rainha que tinha acabado de ser contrariada. Que velho mais sovina! Me enganou descaradamente! Assim que casarmos, querida, iremos viver em um de meus enormes apartamentos em Londres ou mesmo Nova Iorque. Pois, sim! Já faz 3 meses que nos casamos e eu ainda estou estacionada aqui nesse fim de mundo! Será que ele não percebe que preciso de movimento? Que preciso de festas? Que preciso ser vista? Não aguento nem mais um dia nesse mausoléu! Hoje mesmo vou falar pra ele, ou vamos imediatamente para Londres ou Nova Iorque ou eu não respondo por mim! Eu realmente sou uma grande atriz. Ele vai ficar bastante satisfeito com meu desempenho...
Edgar Vilasboas e sua esposa, Cleuza conversavam em uma das mais aconchegantes suítes da Mansão Sun Way:
___ Eu não duvido nada que aquela sirigaita esteja fazendo direitinho a cabeça de seu pai, querido!
___ Você está sendo muito leviana, minha querida. Ela parece realmente gostar muito dele!
___ Vocês homens são todos iguais! Caem de quatro ao verem um rostinho e corpo bonitos...
___ Papai não é um tolo e nunca foi, querida!
___ Os homens, depois de uma certa idade, se tornam tolos, meu bem, e são facilmente enganados por um belo rosto!
___ Papai não seria tão idiota assim!
___ Eu sei o que estou falando, querido, eu escutei ele hoje chamando o advogado!
___ O que você esta falando?
___ Eu estava admirando aquele lindo jardim de Tulipas, próximo à janela do escritório. Não pude evitar de ouvir o seu pai ao telefone. Você sabe como ele fala alto. Escutei claramente quando ele chamou o advogado para jantar hoje à noite.
___ Não acredito que papai irá tomar alguma decisão que prejudique a mim ou a Tereza. Pode ser que tome em relação a João Vítor, que é um total irresponsável!
___ Eu não teria tanta certeza disso, querido! Lembre-se que mês passado ele já disse com todas as letras que não vai mais te socorrer com grandes quantias toda vez que você der os pés pelas mãos! Nem a você e muito menos ao desastroso marido de sua bela irmã!
___ Eu não tive muita sorte nos meus últimos investimentos. Só estamos passando por uma fase ruim! Quanto ao Douglas, realmente minha irmã fez um péssimo negócio casando-se com um falido!
___ E tem mais, querido... Eu escutei quando ele perguntou se poderia deixar toda sua fortuna para uma única pessoa...
Será que ele descobriu tudo? Como ele descobriu? Velho desgraçado! Eu estava escondendo tudo tão bem! Tive todo o cuidado necessário. Ninguém desconfiou de nada! E Agora? Eu tenho que agir rápido! Não posso falhar! Hoje ele me olhou de um jeito tão estranho! Tive certeza na hora que ele havia me descoberto! Tenho que dá um jeito nisso! Não me resta outra alternativa...
Rodrigo Serrano agora tinha certeza de que estava perdido. Já estava rodando sem rumo há um tempão. Maldita hora em que resolveu seguir a orientação daquele simpático frentista. Há um atalho fantástico à esquerda da avenida! Você economizará tempo e combustível! E agora nem sei mais onde está a autoestrada! Mas o pior ainda estava por vir. Sem motivo aparente algum, os dois pneus laterais estouraram ao passarem por cima do que parecia uma lombada. Droga! Só me faltava essa! O que eu farei agora, meu Deus? De repente ele avistou à esquerda da estradinha em que estava, uma suntuosa casa cercada de altos pinheiros. Já eram quase 7 da noite. Quem sabe os moradores podem me ajudar? Resolveu contornar, mesmo com o carro naquela situação, em direção à bela casa. Estacionou seu velho Uno amarelo, no que parecia um estacionamento, ao lado de uma linda Mercedes e de uma enorme placa de madeira, que dizia de um modo um tanto pomposo demais: Mansão Sun Way, propriedade dos VilasBoas desde 1889. Estrada 14, nº 574. Segurou um pouco o riso. Ora, ora, pensei que estava perdido e vim parar logo onde eu realmente queria! Antes de chegar até a porta ele precisava fazer algo. Um tempo depois, tocou a campainha.
Tereza VilasBoas era uma bela morena de olhos verdes. Tinha 35 anos de idade, mas parecia muito bem ter uns 21. Era alta, magra e muito charmosa. Nesse momento, seu marido, Douglas, estava admirando seu belo traseiro, enquanto Teresa estava terminando de se trocar para o jantar.
___ Não fique ai sentado feito um bobo na cama me olhando, Douglas, querido. Me ajude a abotoar esse vestido! Você sabe que papai não admite atrasos para o jantar!
___ Eu estava aqui dizendo pra mim mesmo, querida. Que sorte eu tive em ter me casado com você!
___ Eu sei, Douglas, querido! Você teve mesmo muita sorte! Só não sei se posso dizer o mesmo!
___ Querida! Não fale assim! Você sabe que eu era muito rico quando me casei com você!
___ Sim, era o que você dizia...Mas de uma hora pra outra, sua família perdeu tudo!
___ Mas já te expliquei isso tantas vezes, meu amor! Aliás, desde quando nos casamos há 3 meses...
___ Sim, tivemos sorte que papai também estava se casando na mesma época! Ele pareceu nem se importar! Mas agora, querido, ele já me interpelou mais de uma vez em relação ao nosso casamento! Está cada vez mais difícil segurar as intenções dele, Douglas!
___ Eu sei que você vai dá um jeito, querida...
João Vítor sempre foi o ovelha negra da família. Desde criança sempre se mostrou uma pessoa um tanto desonesta. Colava nas provas, mentia para os professores e coleguinhas. Sua mãe, a Senhora Maria Vilasboas, sempre era chamada à diretoria para resolver as mais variadas situações. Quando finalmente cresceu a situação não melhorou em nada. Ao contrário, parece ter piorado! A gota dágua foi quando falsificou a assinatura do pai em um cheque. Mr. Rudolf ficou furioso e resolveu mandar o filho para estudar num internato na Europa. Lá ele ficou até completar os estudos. Cursou a faculdade de administração. Mas quem disse que não aprontou nada? Mais de uma vez, seu pai também teve que intervir em favor do filho e mais de uma vez, evitou que o filho fosse preso. E agora, com quase 30 anos e nem um pingo de maturidade, o filho retorna a velha mansão da família. Sentado em seu quarto, João Vítor estava pensativo. O que será que todos estão pensando a meu respeito? Sabe de uma coisa? Eu não ligo a mínima! Nunca liguei! Eles terão que me engolir! Até o Edgar, com aquele ar de dignidade e arrogância! Somente Tereza estará feliz por eu ter voltado! Ela sempre gostou de mim! Talvez a única, depois de minha mãe! Mamãe... por que você se foi? Papai foi o responsável por ela ter morrido tão cedo! Sim, ele foi o culpado! Ele e suas amantes! Mamãe morreu de desgosto! Um dia eu me vingo de verdade desse velho desgraçado!
O barulho do tiro fez todos correrem para a porta do escritório de Mr. Rudolf. A primeira a chegar foi Catarina, a empregada mais antiga da Mansão Sun Way. Era uma espécie de governanta, responsável pela casa e pelos outros empregados. Depois dela, os outros chegaram, praticamente juntos, vindo de todos os lados.
___ O que aconteceu Catarina? Cleuza foi a primeira a abrir a boca.
___ Eu não sei, Senhora. Eu acho que foi um tiro e veio aí de dentro!
___ Não! Papai! Edgar gritou se dirigindo em direção a porta, tentando abri-la. Não quer abrir! Está trancada!
___ Será que o velho se matou?
___ Não fale asneiras, João Vítor! Papai não faria uma coisa dessas! Douglas parecia transtornado.
___ Eu tenho uma chave reserva! Dizendo isso, Catarina tira um molho de chaves do bolso. Procura uma em particular e abre a porta. Todos entram ao mesmo tempo, empurrando uns aos outros. Susane consegue entrar primeiro. Ao ver o corpo do marido sentado na cadeira, com a cabeça jogada sobre a escrivaninha, gritou estridentemente e caiu desmaiada, convenientemente num dos sofás.
___ Meu Deus! Teresa gritou com desespero. Será que foi um assalto!
___ O que está acontecendo aqui? Todos olharam com ar assustado para Rodrigo Serrano, que nesse momento entrava no escritório, vindo por trás de todos, diretamente da sala de estar.
II
___ Quem é você? Edgar foi o primeiro a tomar conta da situação.
___ Meu nome é Rodrigo Serrano. Estava justamente tocando a campainha quando ouvi algo que parecia um tiro. Toquei mais umas duas vezes. Ninguém parecia ter ouvido, quando ia tocar novamente eu escutei um grito horrível de mulher, aí não teve jeito, vi que alguém precisava de ajuda, vi que a porta não estava trancada e resolvi entrar. Vi a maioria descendo as escadas em desespero em direção a esta sala e resolvi segui-los.
___ Isso é verdade, Senhorzinho Edgar. Disse Jonas, o copeiro, segurando uma bandeja vazia de prata, chegando nesse momento, criando uma sensação de anticlímax em todos.
___ Jonas, o que você faz com essa bandeja nas mãos?
___ Desculpe-me Senhora. Disse se dirigindo a Cleuza Vilasboas. mas estava polindo a prataria quando ouvi a campainha tocar. Já ia atender à porta, quando ouvi o tiro. Fiquei paralisado! Por alguns instantes não conseguia me mexer! Vi quando esse cavalheiro em questão entrou depois do grito de madame Susane. Consegui me recompor do choque e vim por trás dele, seguindo-o até aqui.
___ Sim, tudo muito bem explicado! Mas, o mais importante o senhor...
___ Rodrigo Serrano.
___ O senhor, Rodrigo Serrano, ainda não disse! O que está fazendo aqui? Por que tocou a campainha desta casa?
___ Eu acho que haverá tempo para explicações, mas neste exato momento, precisamos verificar qual o estado da vítima! Será que não está somente ferida? Eu preciso averiguar...
___ Você é médico ou algo assim?
___ Sou estudante do quinto ano de medicina. Tenho certeza de que posso verificar o estado em que se encontra a vítima de arma de fogo. Se não se importa, gostaria de examiná-lo!
___ Nas histórias de detetive, sempre é lembrado que não se pode mexer no corpo de uma vítima de assassinato!
___ Não seja tolo, João Vítor, não vê que papai cometeu suicídio!
___ Ah, minha Tereza querida, agora quem está sendo tola é você!
___ Não pode ter sido suicídio! Disse Rodrigo Serrano. Por 2 motivos!O tiro foi dado à queima roupa, por trás, na nuca, num ângulo que seria quase impossível que a vítima pudesse ter feito nela mesma. Mesmo que não fosse canhota e contorcesse a mão!
___ Como sabe que meu sogro era canhoto? Cleuza parecia um tanto incrédula.
___ Ora, ele está segurando uma caneta com a mão esquerda e parece que ia escrever algo nesse bloquinho de papel...
___ Você é muito observador, Senhor Rodrigo Serrano, não vai dizer que também é da polícia?
___ Não, claro que não. mas eu tenho um tio Inspetor de Polícia. E nas horas vagas, costumo ler histórias de detetive. É meu hobby na verdade, Senhor...
___ João Vítor Vilasboas. Sou o filho mais novo do Senhor Rudolf Vilasboas, a vítima que você acabou de examinar!
___ Bem Senhor Serrano. Eu sou Edgar VilasBoas, o filho mais velho. Esta é minha esposa, Cleuza. Aqui a meu lado está Tereza Vilasboas, minha irmã e seu marido, Douglas.
___ Gostaria de expressar meus sentimentos pela perda repentina e dizer que sinto muito!
___ Senhor Serrano, você ainda não disse o segundo motivo.
___ Não, D. Cleuza, ainda não disse.
Nesse momento Suzane, que estava repousando no sofá, no canto do escritório, começou a despertar de seu desmaio. Levantou a cabeça e ainda uma tanto tonta, fez uma pergunta que desconcertou a todos.
___ Então, já chamaram a polícia?
___ Po-polícia? Por que a polícia? Eu não quero me envolver com polícia! Jonas, o copeiro, pareceu assustado.
___ Por que este cavalheiro acaba de deixar por entender que papai foi assassinado!
___ Cleuza, querida! Tenho certeza de que ele não quis dizer exatamente isso...
___ Sinto muito, Senhor Edgar, mas creio que não me resta dúvida de que foi assassinato! E a polícia dirá o mesmo! Rodrigo Serrano parecia bastante convicto.
___ Deus, Isso não pode está acontecendo! Em nossa família?
___ Calma, Tereza! Acho que talvez tenha sido um acidente...
___ Ora, João Vítor, como isso seria possível?
Douglas Vilasboas resolveu intervir:
___ O que eu acho realmente estranho foi que o meu sogro foi morto justamente na mesma hora que esse Senhor, Rodrigo Serrano, entrou nesta casa... Acho até conveniente demais!
___ Mas eu já expliquei os motivos que me levaram a chegar a esta casa!
___ Muito provincial, não? Douglas continuou incisivo
___ E além do mais, o seu copeiro pode confirmar que quando se ouviu o tiro, eu estava tocando a campainha, em frente à porta da sala! Não seria possível eu estar nesta sala a mesma hora atirando em seu sogro!
___ Jonas, vem cá! Edgar Vilasboas grita em direção ao copeiro, que estava, ainda visivelmente, assutado, ao fundo da sala, meio distante de todos.
___ Pois não, Senhorzinho! Disse Jonas, se aproximando.
___ É realmente verdade isso que ele está dizendo?
___ Si-sim, Senhorzinho! O Senhor Serrano tocou a campainha quase no mesmo momento em que ouvi o tiro. Foi por isso, Senhorzinho, que fiquei paralisado! Eu não podia acreditar, depois desses anos todos trabalhando para Mr. Rudolf, que ouviria um tiro dentro desta casa! O Senhor Serrano tornou a tocar mais um ou duas vezes, Depois vi todos descerem e irem em direção ao escritório. Vi quando o Senhor Serrano começou a seguir em direção a esta sala, Só então, eu despeitei da minha espécie de transe e também vim em direção ao escritório.
___ Nesse caso, só nos resta chamar a polícia! Rodrigo Serrano resolveu tomar conta da situação.
___ E também porque eu preciso mostrar que não tenho nada a ver com isso. Cheguei a esta casa por mera coincidência. E por outra infeliz coincidência, me vi envolvido em um assassinato! Eu preciso livrar a minha cara!
___ Só que tem um grande problema! Suzane, que estava esse tempo todo deitada no sofá, resolveu se levantar e dá uma notícia que ninguém esperava.
___ O telefone não está funcionando! Desde essa manhã, na verdade. Eu iria trocar o horário do cabeleireiro e não consegui falar com ninguém!
___ Eu não acredito nisso! Tereza se indignou. ___ Estamos quase nos anos 90 e esses telefones ainda estão no século XIX!
___ Acho que podemos pedir para o jardineiro ir até o Distrito Policial. Fica a uns 30 km. De qualquer forma é mais perto que ir até nosso vizinho mais próximo! Falando isso, Cleuza saiu da sala.
___ Precisamos sair desta sala e trancá-la. Nada pode ser mexido.Tudo tem que estar do jeito que encontramos. Rodrigo Serrano mais vez demonstrando que tomaria conta de tudo até que a polícia chegasse. Tem alguma outra sala para onde nós todos possamos ir?
___ Temos a biblioteca, disse Cataria,a governanta. Lá haverá espaço suficiente para todos. Há dois grandes sofás,algumas mesas e cadeiras. Quanto a fechar esta sala eu mesma posso fazer isso, assim que sairmos daqui!
___ Eu quero todas as cópias das chaves existentes dessa sala. Elas devem ficar em lugar seguro até a chegada da polícia.
___ Você não acha que estas chaves devem ficar com alguém da família? Comigo, por exemplo, que sou o filho mais velho? Edgar parecia aborrecido com a intromissão de Serrano naquilo que ele julgava ser um assunto para a família resolver.
___ Podemos deixar as chaves a vista de todos, em algum lugar da biblioteca. Assim, ninguém poderá pegá-las sem ser visto e ficarão seguras até a chegada da polícia. Todos pareceram concordar com essa ideia.
João Vítor, depois de olhar para o corpo de seu velho pai, que continuava caído sobre a escrivaninha, perguntou desviando seus olhos para Rodrigo Serrano.
___ Você disse que tinha dois motivos para não ter sido suicídio, qual o outro?
___ É bem simples: A arma que matou seu pai não está em suas mãos, nem em cima da escrivaninha, muito menos no chão! A arma não está nesta sala!
___ Eu não teria tanta certeza! Nesse momento, Cleuza entra um tanto esbaforida na biblioteca.
___ O que foi que aconteceu, Cleuza, querida? Parece que viu um fantasma! Edgar transparecia preocupação com a esposa.
___ Eu consegui falar com nosso jardineiro, Jairo, que já é um senhor de certa idade, Senhor Serrano. Ele tinha acabado de chegar de sua caminhada diária de fim de tarde. Achei melhor que ele fosse no carro de meu sogro, já que seria mais rápido...
___ E qual o problema disso, minha querida?
___ É que alguém deve ter mexido no carro de seu pai, querido! Por que cortaram alguns fios do motor! Eu fiquei muito assustada! O Senhor Jairo então, resolveu ir a pé. O velho carro dele está na oficina do velho Thomas, na cidade, desde a semana passada!
___ Meu Deus, Mas o que significa isso?
___ Significa, que o assassinato de seu pai, Senhor Edgar, foi premeditado!
III
Depois do susto inicial por causa das declarações de Cleuza Vilasboas, todos resolveram que seria melhor irem para a biblioteca. O escritório foi trancado, inclusive todas as janelas e a porta envidraçada. As chaves foram penduradas num prego na parede de entrada da biblioteca, bem a vista de todos. Catarina providenciou algumas bebidas e sanduíches. Suzane Vilasboas sentou-se numa confortável poltrona, que ficava ao fundo. Cleuza e Edgar Vilasboas sentaram num belo sofá de dois lugares, que ficava ao lado direito, junto a uma grande janela. Tereza e Douglas Vilasboas ficaram acomodados numa pequena mesa redonda, ao lado de Suzane. João Vítor, como sempre, deslocado, estava em pé, ao lado da janela. Os empregados da casa se acomodaram no grande sofá à esquerda. Lá sentaram-se o velho copeiro Jonas, a cozinheira, Maria, a arrumadeira Clotilde e Catariana, a governanta. Rodrigo Serrano, que nessa altura dos acontecimentos, se sentia o próprio detetive belga Hercule Poirot, das histórias de Agatha Christie, estava sentado ao centro, numa grande cadeira rotativa preta e de encosto alto.
___ Bem, acho que estamos prontos!
Antes de começar a conversar, enquanto todos ainda se acomodavam, Serrano resolveu avaliar cada um dos presentes, parando um pouco em cada um, em particular. Começou com a nova esposa de Mr. Rudolf, Suzane Vilasboas. Sim, uma bela mulher. Loira, alta, corpo bem feito...um tanto "burra", talvez, ou se faz? Difícil dizer assim, sem conhecer melhor. Casou-se por dinheiro? Isso não tenho duvidas! Cheia de jóias, um tanto espalhafatosa. Esse tipo não me engana! Vende a própria mãe por dinheiro!
Tereza Vilasboas. Esta sim é uma mulher de classe! Difícil imaginar o que ela está pesando! Muito autocontrole. Parece devotada ao marido, que parece comer na sua mão! Por falar nisso, seu marido, Edgar Vilasboas parece preocupado com alguma coisa. Será com o quê? Será que as coisas não andam bem para os dois? Preciso descobrir, pode ter algo aí que seja importante!
Edgar Vilasboas. O filho mais velho. Um tanto impulsivo. Um tipo nervoso. Parece preocupado com morte do pai, mas pode muito bem ser fingimento. Sua esposa, Cleuza, parece um doce! Educada, competente e de iniciativa. Tende a dominar facilmente o marido, pelo que entendi. Mesmo assim, tem algo aí que não encaixa...preciso descobrir o que é!
João Vítor o deslocado da família! O estorvo! Ali em pé, parecendo perdido. Chega a dá pena. Um incompreendido ou um malandro de marca maior? Ouvi dizer que fez algumas coisas nada honestas, não só em criança como depois de adulto. Será também um assassino? Com certeza seria um alívio para a família se fosse ele! Só tenho certeza de uma coisa. Ele sabe algo. Só não sei se o que ele sabe é importante ou não. Preciso descobrir.
Catarina, a governanta. Mulher competente demais para o meu gosto. Parece uma professora durona que tive! Com esses cabelos pretos amarrados nesse coque e esses óculos grandes. Parece bem mais velha. Quantos anos? Aparenta uns 40. Mas se soltasse esses cabelos e vestisse algo decente, não essa saia horrorosa e essa blusa de vovó, passaria por uma bela moça de 25 anos numa boa! Será que sabe de alguma coisa? Com certeza sabe de tudo! Mas como vou arrancar algo dela?
Vamos aos empregados. Jonas, o copeiro. Deve ter uns 55 anos. Ele viu ou ouviu alguma coisa! Não engoli aquela história que ficou paralisado com o barulho do tiro! Maria, a cozinheira. Uma bela senhora, ainda bonita. E deve ter sido muito bonita quando jovem. Uns 60 anos, talvez, cabelos já grisalhos. Parece que esconde algo. Ou eu que sou muito influenciável? Para mim, todo mundo tá sempre escondendo algo! Clotilde, a arrumadeira. Uma mocinha bem apessoada. Muito jovem para o serviço, talvez. Não está gostando nada de ficar presa aqui! Talvez queria sair com o namoradinho.
Enfim, acho que estamos todos acomodados. Podemos começar. Em primeiro lugar, quero que todos falem o que estavam fazendo na hora em que ouviram o tiro.
___ Mas espera aí! Não era para a polícia fazer essa pergunta? Mais uma vez, Edgar Vilasboas se indignou.
___ Acho que nós combinamos que entregaríamos a solução do caso para a polícia, quando eles chegarem. Ou vamos ficar aqui olhando para a cara uns dos outros durante essas quase duas horas que levará para o jardineiro chegar ao Distrito Policial a pé? Creio que todos concordaram que eu conduziria essa especie de "interrogatório" coletivo. E com nossas deduções, poderíamos entender o que teria ocorrido e entregaríamos a solução pronta para as autoridades policiais!
___ Sim, concordamos com tudo! A sensatez de Cleuza Vilasboas salvou a situação.
Nesse momento, Suzane levanta de seu sofá, um tanto aflita e começa a falar, um tanto esbaforida.
___ Eu não aguento mais! Eu preciso falar tudo o que eu sei!
___ Se acalme, Suzane, você não sabe de nada! Deve estar um pouco nervosa devido à situação, foi um choque pra você! Catarina, providencie um calmante, por favor!
___ Claro, senhor Douglas. Irei providenciar agora mesmo!
Catarina nem teve tempo de se levantar, pois nesse exato momento, as luzes se apagaram. O que foi isso? Ai, alguém pisou o meu pé! Douglas querido, cadê você? Estou aqui, querida, a seu lado! João Vítor, foi você que esbarrou em mim? Quem foi que puxou meu braço? Onde fica o fusível? No final do corredor! Alguém tem um fósforo ou uma lanterna? Há uma ai na gaveta da mesinha, perto da porta! Deixa que eu pego! Rodrigo Serrano acha a lanterna. Consegue acendê-la. Clareia a sala. Vê que todos estão sentados em seus lugares. Passa a luz direcionado o foco para cada um em particular. Estão todos bem? Ilumina o lugar onde deveria estar Suzane Vilasboas.
Mas quando o foco de luz foi direcionado, o que se viu deixou a todos em choque! Suzane Vilasboas estava caída sobre o sofá, com um pequeno punhal enfiado em sua garganta. O sangue começava a jorrar...
___ Meu Deus! Não teve nem tempo de gritar! Disse Jonas o copeiro.
Mas ninguém teve tempo de prestar atenção no que o copeiro , pois nesse exato momento Maria, a cozinheira solta um grito terrível e cai desmaiada.
IV
Mais uma vez, Rodrigo Serrano tomou conta da situação. Afastou todos que estavam próximo do corpo de Suzane Vilasboas. Não deixou ninguém tocá-la. Pediu ajuda a Douglas Vilasboas e juntos levaram o corpo para o escritório de Mr. Rudolf. Agora, na Mansão Sun Way, havia, não um, mas dois corpos trancados, a espera da polícia.
___ Agora, mais do que nunca, sabemos que o assassino está aqui, dentro desta sala. na verdade é um de nós! As palavras de Rodrigo Serrano fizeram todos estremecerem. Por um breve instante, todos se olharam assustados.
___ Eu não posso acreditar nisso! Não acho que alguém aqui teria coragem para isso! O olhar de Cleuza desmentia suas palavras.
___ Ainda acho que foi alguém de fora! Douglas parecia convicto. Foi uma tentativa de assalto que não deu certo, claro. Meu sogro deve ter reagido de alguma forma. O assaltante disparou a arma e fugiu! Suzane deve ter visto alguma coisa e ele voltou para silenciá-la!
___ A sua história é bem bonitinha, Senhor Douglas, mas não explica todos os pontos! Seu sogro não reagiu! Na verdade ele nem viu quem o matou. O assassino ou a assassina ( pode muito bem ter sido uma mulher) chegou por trás de Mr. Rudolf e atirou com precisão em sua nuca! Em seguida, usou a porta envidraçada para dá a volta pela casa e voltou tranquilamente para dentro se juntando todo preocupado aos outros que seguiam em direção ao escritório. Tudo muito conveniente!
___ E a arma do crime? Ainda está com ele? Cleuza, pela primeira vez, demonstrando um pouco de curiosidade.
___ Com certeza ele ou ela, ao voltar pra dentro de casa, jogou a arma no jardim, ou escondeu a arma em algum lugar.
___ Ora, Senhor Serrano, sua história é que parece absurda! Edgar Vilasboas resolveu dá sua opinião. O assassino, se é que ele exista, não seria tão estúpido. Eu em seu lugar, colocaria a arma em seu lugar.
___Que lugar?
___ Ora, todo mundo sabe que papai tem uma coleção de armas. Está na sala de estar. Dentro do cofre.
___ Eu não sabia disso.D. Catarina, você tem o segredo desse cofre?
___ Tenho sim, senhor! Na verdade, todos sabem a senha! Mr. Rudolf fazia questão de que todos soubessem a senha do cofre. Os filhos o visitam com certa frequência. No cofre há alguns documentos, jóias e outros objetos. De vez em quando, Mr. Rudolf viaja para a Inglaterra e algum dos filhos podem precisar de algo, por isso todos sabem o segredo. Desde que são crianças, isso é algo comum dentro desta casa. Jamais objeto algum desapareceu dali.
___ Muito interessante isso. E a coleção de armas fica ali também/
___ Sim, senhor Serrano. Ficam em uma espécie de caixa. Já as balas ficam em outro cofre, no quarto de Mr. Rudolf. Este sim, só ele e a esposa, sabem o segredo.
___ Quero ver esse cofre e essa famosa coleção!
Rodrigo Serrano acompanhou Catarina e os demais curiosos até o cofre. Ao abrir a caixa, Todos perceberam que uma arma estava faltando. Um dos espaços destinados às armas estava vazio.
___ Está faltando uma! Eram 8 armas pequenas! Catarina estava incrédula. Essas armas pertenceram ao pai de Mr. Rudolf, Senhor Thomas Vilasboas. São armas inglesas do século 19!
Todos voltaram para a biblioteca. O clima agora estava mais intenso e pesado. Rodrigo Serrano agora tinha pouco tempo para a encontrar a verdade. Já fazia uns 40 minutos que o jardineiro tinha saído. Já devia estar bem próximo do Distrito Policial. Logo, a polícia chegaria. Ainda se sentindo o próprio Hercule Poirot, Serrano decidiu que não iria procurar arma do crime. Para o detetive belga, sair procurando pistas de um lado para o outro, correndo feito um idiota, era perda de tempo. Tudo se baseava nos fatos e no uso das famosa "massa cinzenta". Era possível descobrir a verdade sentado em sua cadeira, apenas refletindo sobre os fatos. Seguindo esse pensamento, ele sugeriu que todos se sentassem em círculo e propôs uma espécie de jogo. Ele faria uma pergunta para cada um. Todos se comprometiam a dizer apenas a verdade. Depois que todos respondessem, ele seria capaz de dizer a verdade sobre os assassinatos. Todos acharam que Rodrigo Serrano era um fanfarrão e resolveram concordar em participar. Por que não? Quero ver esse metido a detetive fazer papel de idiota! Foi o pensamento que passou na cabeça da maioria.
___ Então comecemos nosso jogo! Minha primeira pergunta vai para a Senhora, Tereza Vilasboas. Onde a senhora estava quando ouviu o tiro que matou seu pai?
Eu estava na cozinha. A jarra de água do meu quarto estava vazia, então resolvi descer até a cozinha. Aproveitei e comi alguns biscoitos. Também estava com fome.
___ Senhora Catarina, quem a Senhora viu saindo do quarto de Suzane Vilasboas antes do tiro?
___ Como o Senhor sabe que eu vi alguém saindo do quarto de madame Suzane?
___ Ora, Quando eu entrei pela porta, a senhora ia bem na minha frente e ouvi claramente o que a senhora disse para si mesma : " Eu não acredito que ele estava no quarto de madame Suzane!". Então, quem era?
___ Ora, eu vi o Senhor Douglas...mas tenho certeza de que ele tenha uma explicação bem simples para isso!
___ E tenho! Eu estava ajudando Suzane com a interpretação de alguns documentos. Todos aqui sabem que a inteligência não era o ponto mais forte da esposa de meu sogro!
___ Não seja tão leviano, querido, ela está morta!
___ Não acho que isso a ofendesse, Tereza, querida!
Serrano pareceu não se importar com a conversa entre marido e esposa. Passou os olhos pelos presentes parecendo escolher quem seria o alvo de sua próxima pergunta. Apertou e abriu as mãos e parou os olhos diante da pessoa que parecia ser a escolhida.
___ Minha pergunta agora vai para a arrumadeira, Senhorita Clotilde...
___ Para mim? Clotilde pareceu se assustar.
___ Não se assuste, meu bem! O que vou perguntar à senhorita é uma coisa bem simples e tem mais a ver com o caráter de sua profissão e não com você mesma.
___ Eu não estou entendendo, Senhor!
___ As arrumadeiras participam da intimidade de seus patrões e de seus familiares, mesmo que não percebam o quanto.Sabem coisas que nenhum outro empregado sabem. E...
___ Eu não sou uma mexeriqueira, senhor, se é isso que quer insinuar!
___ Calma, senhorita. Não é nada disso! Só digo que as arrumadeiras tem acesso a vida e aos objetos pessoais de seus patrões, por que é ela que arruma e organiza os seus pertences, sua roupa e seus objetos. Por isso só quero saber uma coisa: Alguma vez a senhorita encontrou algo que não deveria está naquele local ou naquele lugar?
___ Agora eu estou entendendo onde o senhor quer chegar... na semana passada eu encontrei as pílulas de estômago, que Mr. Rudolf tomava, no quarto de... De repente, Clotilde percebe que ia falar demais. Disfarça o nervosismo com uma espécie de sorriso sem graça e continua...Se eu não fosse tão distraída, Senhor, eu até poderia te dizer onde vi..., mas acho que isso não tem importância nesse momento...
Serrano, que de bobo não tinha nada, percebeu quando Clotilde pareceu olhar para o outro lado da sala e para alguém em particular. Querendo dá uma de esperta, não é garota idiota? Claro que você sabe muito bem em quarto de quem você viu as pílulas de Mr. Rudolf. Talvez você queira tirar proveito dessa situação. Tá pensando em fazer chantagem sua idiotazinha? Saiba que isso é muito perigoso...Os pensamentos de Serrano pareceram desaprovar a atitude de Clotilde, que continuava com o sorrisinho no rosto.
___ Tem certeza, Clotilde, que não sabe lembra onde viu as pílulas de Mr. Rudolf ? Porque, veja bem, e prestem bem a atenção todos vocês! Pode ser que essas pílulas tenham sido adulteradas! E se alguém estivesse envenenando Mr. Rudolf deliberadamente?
___ Ma,s isso é um absurdo, Senhor Serrano! Sabemos que foi um tiro que matou meu pai!
___ Sei perfeitamente disso, Senhor Edgar! Mas seu pai pode ter percebido que estava sendo envenenado. Pode ter sido por esse motivo que o levou a redigir um novo testamento e por isso mesmo teve que ser silenciado!
___ São meras suposições, Senhor Serrano e muito absurdas!
___ Acho que o Senhor lê muitas histórias de detetive, Senhor Serrano! Cleuza disse essas palavras no mesmo tom que uma mãe repreenderia um filho por falar bobagens.
___ Sim, eu leio muitas histórias de detetive! Por isso mesmo eu sei que, se as coisas ocorreram assim, fariam muito mais sentido!
Um certo ar de apreensão tomou conta da biblioteca. Todos se sentiram pouco à vontade com essa afirmação. Dando continuidade ao jogo, Serrano se dirige à cozinheira.
___ Seu Patrão, por acaso, fez alguma queija à senhora sobre o gosto das refeições ultimamente?
___ Olha aqui, seu moço! Cozinho para a família Vilasboas há anos e ninguém nunca fez reclamação alguma sobre o que eu preparo na minha cozinha...
___ Não queria ofendê-la, senhora! O que eu quis dizer foi se seu patrão reclamou de algum gosto novo, ou um tempero diferente nas refeições servidas para ele nos últimos tempos?
___ Nunca reclamou de nada não, seu moço! Ele ultimamente estava tendo azia após as refeições e por isso, eu estava evitando os pratos mais gordurosos e frituras.
___ Claro, claro, daí as pílulas de estômago! Falar nisso, quem as receitou?
___ O velho médico da vila, Dr. Natanael. Já está aposentado, mas sempre abria uma exceção a Mr. Rudolf. Catarina pareceu bastante satisfeita ao dá essa informação.
___ Muito bem, minha pergunta agora vai para o Senhor Douglas!
Não sei se foi impressão, mas Serrano achou que Douglas Vilasboas ficou um tanto apreensivo.
___ O que o senhor estava fazendo, na estrada, escondido atrás de umas árvores, um pouco mais cedo, hoje, quando eu estava vindo pela estrada?
___ Eu não sei do que o senhor está falando! Eu não sai desta casa hoje nem por um minuto! O Senhor deve ter me confundido com outra pessoa!
Quase todos os presentes perceberam que Serrano não acreditou nem um pouco na história de Douglas.
___ Claro, Senhor Douglas, pode ser que eu tenha me enganado...
___ É evidente que se enganou! Como eu disse, não sai de casa hoje!
Jonas, pareceu que ia dizer alguma coisa, se levantou um tanto ofegante, mas por algum motivo, desistiu e sentou-se novamente.
Serrano, aproveitou o fato e resolveu que era chegada a hora de fazer uma pergunta ao copeiro.
___ Jonas, você trabalha há muito tempo para a família Vilasboas, não?
___Sim, Senhor! Desde muito jovem! Na verdade, meu pai era o copeiro antes de mim. Foi ele que me ensinou a ser um bom copeiro. Depois que ele morreu, eu assumi seu lugar. E olha que já se passaram 30 anos, Senhor!
___ Por isso mesmo Jonas, tenho certeza de que você será capaz de responder à minha pergunta. Os filhos de Mr. Rudolf vêm visitá-lo com muita frequência?
___ Mas essa pergunta, nós mesmos poderíamos responder, Senhor Serrano! Mais uma vez, Edgar parecia indignado!
___ Mas é claro, Senhor Edgar! Mas eu tenho meus motivos para fazer essa pergunta ao Jonas!
___ Bem Senhor, Os filhos costumam visitá-lo sempre que possível. O senhorzinho Edgar e Tereza sempre foram muitos apegados ao pai. Desde criança. Tereza e seu marido, Douglas costumam vir praticamente todos os fins de semana. Afinal, eles não moram muito longe. Já sinhorzinho Edgar e sua esposa, Cleuza, costumam alternar os finais de semanas.
___ Moramos na capital, Senhor Serrano. E nem sempre os compromissos nos deixam vir como gostaríamos!
___ Entendo perfeitamente, D. Cleuza!
___ Já o senhor João Vítor, esse raramente vem visitar o pai!
___ Eu sou um homem do mundo, Senhor Serrano! Não consigo ficar estacionado em um único lugar por muito tempo!
___ Também entendo seu temperamento, Senhor João Vítor!
___ Sabia que entenderia...
De repente o som de uma moto, vindo de fora, chamou a atenção de todos. Alguns foram até
a janela para ver quem estava chegando.
___ Será a polícia? Catarina não perdeu a oportunidade para palpitar.
___ Duvido muito! Serrano pareceu convicto.
___ É melhor eu ir lá fora ver o que esse motoqueiro misterioso quer! Vou aproveitar e pedir para ele chamar a polícia no distrito. Sendo assim, a polícia vai chegar um pouquinho mais rápido.
Serrano saiu da biblioteca e fechou a porta. Todos escutaram o barulho da fechadura.
___ O que esse desgraçado acha que tá fazendo? Com que direito ele nos tranca em nossa própria casa? O descontentamento de Edgar Vilasboas foi compartilhado por todos. Vinham reclamações de todos os lados!
Não demorou muito e novamente todos ouviram o barulho da moto.
___ Parece que está indo embora! Disse João Vítor, que estava mais próximo da janela.
O barulho da fechadura se abrindo fez todos olharem para a porta novamente. Por ela entra um Serrano todo sorridente, o que não conduzia com a sua postura desde então.
___ Posso saber por que o Senhor está tão feliz, Senhor Serrano? O senhor não tinha o direito e nos trancar aqui, enquanto...
___ Sinto muito, Senhor Edgar Vilasboas, mas eu não preciso mais fazer perguntas, o caso está encerrado!
V
___ Como assim, encerrado? O senhor enlouqueceu? disse Edgar incrédulo. Já sabe quem matou meu pai?
___ Já sei de tudo, inclusive, quem estava prestes a cometer um assassinato!
___ Eu não estou entendendo, Senhor Serrano! Já não houve dois assassinatos?
___ Quero que todos que se sentem, por favor, porque agora eu vou esclarecer todos os fatos! Em primeiro lugar, gostaria de informar a todos os presentes que a casa está cercada pela polícia!
___ Pela polícia! Se tivessem ensaiado não teria saído tão perfeito!
___ Sim, pela polícia! De nada adiantaria alguém fugir daqui! Seria uma perda de tempo!
___ O Senhor fala como se o assassino estivesse entre nós! Com certeza foi alguém de fora que...
—- Desculpa interrompê-la, D. Tereza, mas não houve assassinato algum! pelo menos até agora!
—- Como não houve assassinato? Não só houve um, mas dois! Edgar foi interrompido por um gesto de mão firme de Serrano, que pediu mais uma vez silêncio. Ordenou que todos continuassem sentados. Pediu para não ser interrompido e começou a falar:
—- Primeiramente, vou me apresentar. Meu nome realmente é Rodrigo Serrano, mas não sou estudante de medicina, como disse. Sou detetive particular. Fui contratado por Mr. Rudolf para descobrir quem o estava envenenando.
As palavras de Serrano atingiram a todos como uma bomba. Ninguém teve coragem sequer de se mexer.
—- Isso mesmo. Alguém estava envenenando Mr. Rudolf deliberadamente. E o veneno estava sendo ministrado dentro das pílulas de estômago. Mas não era fácil descobrir o autor, por isso Mr. Rudolf me contratou. Então, resolvemos bolar um plano para descobrir essa pessoa. Tudo isso que aconteceu hoje aqui faz parte desse plano. Na verdade, eu cheguei a esta casa um pouquinho antes do que disse. Deixei o carro nas imediações e vim a pé. Já sabia que meu contratante estava no escritório. Entrei pela porta envidraçada empunhando a "arma" do crime. Ajudei Mr. Rudolf a "arrumar" a cena que vocês veriam mais tarde e o ajudei também com a "maquiagem" do falso tiro. Sai novamente pela porta envidraçada. Sabia de antemão que nesse horário todos estavam em seus quartos se preparando para o jantar e dificilmente alguém me veria. Dei a volta novamente e finalmente cheguei oficialmente à Mansão Sun Way. Antes de me anunciar, eu cheguei até a janela, que Mr. Rudolf tinha deixado previamente aberta, e dei um tiro pra cima! Joguei a arma no jardim e toquei a campainha. Dai em diante, as coisas, como vocês mesmos testemunharam, ocorreram às mil maravilhas! Todos caíram como um patinho! Menos, claro, uma pessoa! Uma pessoa não estava entendendo nada! Vamos chamar por enquanto essa pessoa de X.
Todos se entreolharam desconfiados. Ninguém ousava se mexer.
___ Isso mesmo, senhores, X estava muito preocupado! Ou preocupada? Quem teria chegado antes dele ou dela e liquidado o velho? O plano era perfeito! Ninguém podia ligar X às pílulas envenenadas! Na verdade, ninguém saberia que Mr. Rudolf tinha sido envenenado! O médico da família que examinaria o corpo era um velho quase sem olfato e cego. Não perceberia nada de anormal. E agora alguém se antecipa e mata Mr. Rudolf com um tiro? Sim, X estava com certeza muito preocupado! E agora deve estar com muito medo! Ele ou ela pode ainda não acreditar, mas eu já sei quem é X! E a polícia também! Vocês lembram do jardineiro que foi buscar a polícia? Ele na verdade era um policial. Já está a uns dois meses infiltrado aqui, não? É isso mesmo! Já faz um tempo que Mr. Rudolf já desconfiava da existência de X! Como eu disse, o jardineiro conseguiu a amostra da impressão digital de X após vê-lo manipular o veneno, quando tocou no vidro de remédios. É tão natural o jardineiro está sempre no jardim e próximo a uma janela...
Nesse momento, Serrano teve a impressão que alguém na sala se estremeceu...
___ E o motoqueiro misterioso que chegou aqui mais cedo? Também era outro policial. Ele entregou para mim o resultado do exame das digitais de X, levadas mais cedo pelo jardineiro-policial. Esse resultado me fez revelar a identidade de X. Até que esse resultado chegasse, eu tive que inventar aquele joguinho de perguntas. Até que foi bastante útil. Ah, sim, eu tinha quase me esquecido de Dona Suzane. Ela também ajudou muito no nosso teatrinho! Na verdade, ela era atriz antes de se casar com Mr. Rudolf ! Enfim, vamos agora conhecer a identidade do misterioso X! O nome dele está aqui nesse pedaço de papel, que acabei de receber de nosso amigo motoqueiro! Que é nada mais, nada menso que...
Serrano não teve tempo de falar o nome de X, pois nesse momento Douglas Vilasboas puxa sua esposa pelo braço e a pega por por trás, empunhando uma faca que ninguém sabe de onde ele tirou.
___ Seu desgraçado! Se alguém se aproximar de mim eu juro que corto o pescoço dessa outra desgraçada!
___ Calma, senhor Douglas, não cometa uma loucura! A casa está cercada por todos os lados! Não tem como o senhor escapar!
___ Eu não sei como esse velho desgraçado descobriu que as pílulas estavam adulteradas! Eu fiz tudo com tanto cuidado! Até pensei em atirar nesse sovina, mas...
___ Sim, eu sei, senhor Douglas, veneno seria muito mais seguro! Por isso mesmo acho que o senhor...
Serrano não pode concluir, pois João Vítor Vilasboas, numa atitude heroica e inesperada consegue puxar o braço de Douglas, livrando sua irmã Tereza da mira da faca. Serrano aproveita a deixa e junto com João Vítor, conseguem dominar o agora desesperado X, sob o olhar perplexo de todos os presentes! E não deu muito tempo e a casa estava realmente cheia de policiais.
Já era manhã na Mansão Sun Way. Mr. Rudolf e esposa estavam tomando café na mesinha da sacada.
___ Eu não fui maravilhosa, meu bem? Fingir que tive o pescoço cortado deveria me fazer ganhar um prêmio!
___ E vai ganhar meu docinho, hoje mesmo vamos numa joalheria...
Enquanto isso, Serrano se despedia na porta de Tereza Vilasboas.
___ Eu sinto muito, Senhora, por seu marido.
___ Será que sente mesmo? Você me tirou a pessoa que eu mais amava na vida!
___ Sinto lhe dizer isso, mas ele não amava a senhora, Casou apenas por dinheiro! Mas agora vai passar algum tempo atrás das grades!
___ Era verdade mesmo que o jardineiro, quer dizer o policial que se fazia passar por jardineiro, conseguiu pegar as digitais de Douglas e...
___ Nem um pouco. Eu inventei tudo! Ele é realmente só um jardineiro! Não tínhamos nenhuma prova! Se não fosse por ele mesmo confessar na frente de várias testemunhas...
___ Quer dizer que até aquele momento, o senhor não sabia de nada?
___ Nem eu, nem Mr. Rudolf sabíamos de coisa alguma! Por isso fizemos aquele teatrinho. E deu certo, o misterioso X se mostrou, do jeito que prevíamos!
___ O senhor é muito diabólico! Eu nunca mais quero ver o senhor na minha frente!
___ Sabe de uma coisa? Tenho a impressão de que a nossos caminhos vão se tornar a se cruzar um dia! Não sei explicar, mas algo me diz que vai ser assim...
___ Que Deus nunca mais permita que eu ponha os olhos no senhor, outra vez!
___ Até a vista, Senhora Tereza Vilasboas!
___ Adeus, Rodrigo Serrano! Até nunca mais!
Serrano caminhou até o carro, que continuava estacionado em frente à grande Mansão Sun Way. Até que foi divertido esse primeiro caso como detetive. Ele ainda tinha muito que aprender. Também tinha mentido para Mr. Rudolf quando disse que era um detetive de larga experiência. Mas ele se saiu bem não foi? Claro que ele teve um pouco de sorte! Pelo retrovisor, ele ainda viu a bela e triste Tereza Vilasboas em pé, na porta, com seu belo rosto de Madona...Novamente aquela estranha sensação que tornaria encontrar a bela Tereza algum dia. E lá se foi, o agora um pouco mais experiente detetive particular Rodrigo Serrano, seguindo seu caminho pela estrada 14. E agora?Esqueci de perguntar como faço pra pegar a estrada principal!
FIM
+
e
gostei
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